No que respeita à inovação em que é que inova este plano em relação ao que já foi realizado há mais de uma década nos países nórdicos?
Quais os sectores estratégicos a criar/reforçar de forma a criar uma oferta externa competitiva assente nas capacidades distintivas do nosso país?
Não está no Plano Tecnológico.
Quais as tecnologias cruciais ao nosso desenvolvimento tecnológico, à melhoria dos cuidados de saúde, à rentabilização da nossa agricultura, do sector pesqueiro, a modernização tecnológica da industria têxtil, ao lançamento de novas indústrias de futuro, por exemplo?
Não está no Plano Tecnológico.
O certo é que se Michael Porter fosse convidado a vir a Portugal realizar outro estudo, não perderia muito tempo e, com muita facilidade, copiaria o trabalho anterior e de provas dadas.
Mas nós achamo-nos "seres" superiores e portanto isso por si só não basta.
Medidas redundantes e generalistas, que se destinam a subsidiar actividades científicas, académicas e empresariais indeterminadas?
O Plano está cheio delas.
Medidas nacionais que criam mais organizações, institutos, comissões de avaliação e cargos de chefia apontados politicamente?
O Plano está cheio delas.
Quando se diz ter como objectivo a criação de 200 novas empresas de cariz tecnológico seria necessário dizer em que sector e como.
Ao nível energético é de louvar a tentativa de criação de um cluster eólico, mas isso não se pode resumir ao lançamento de uns quantos concursos de atribuição de licenças de exploração.
É necessário envolver as universidades e empresas na investigação e aplicação de novos conhecimentos, de novas tecnologias de energia solar ou das ondas e desenvolvimento de novos equipamentos, assim como dinamizar o nascimento de empresas-lider no sector.
Fazer mais do mesmo que já se faz lá fora não constituirá mais valia substancial e, aí, estaremos irremediavelmente atrasados.
Muito menos a energia eólica permitirá resolver a dependência energética do nosso país e o quanto isso afecta a nossa balança comercial, preço dos custos da produção e o nível de vida dos consumidores.
Se realmente conseguirem verdadeiramente criar um cluster eólico forte, conseguirão suavizar a importação de energia, mas não será por isso que Portugal se tornará país exportador de energia ou se livrará da dependência do petróleo, que se constitui como um desafio crucial do século XXI.
Com este plano, Portugal não ganhará nenhum avanço em relação a outros países no que diz respeito a qualquer energia alternativa.
Dos documentos de Programas Internacionais de Inovação, Ciência e Tecnologia disponibilizados no site do Plano tecnológico não constam o das duas economias com maior excedente da balança de transacções de tecnologia: EUA e Japão.
E seria de todo interessante o governo tê-los estudado, especialmente quando o EUA estão no processo de lançar toda uma série de programas percursores no campo das energias alternativas. Disso dependem as margens da sua indústria e o futuro da própria indústria automóvel.
Também o:
1.Incremento qualificado dos níveis de conhecimento dos portugueses
2.Vencer o atraso Científico e Tecnológico
3.Imprimir novo impulso à inovação
Sem dúvida que são três eixos fundamentais do nosso atraso.
Mas eleger mais de duzentas medidas onde se misturam princípios de valor, medidas práticas e autênticos programas nacionais é demasiado académico.
No fim do seu mandato, Sócrates poderá sempre afirmar que conseguiu qualquer coisa, pois no meio de tanto plano até se esqueceram de enunciar quais seriam os objectivos:
- Onde estaremos daqui a 4 ou 5 anos?
- O que estaremos a fazer de novo?
- Qual o crescimento almejado da nossa quota de mercado no exterior?
Se uma empresa pretender colaboração no perfeiçoamento/desenvolvimento de determinado conhecimento científico ou tecnológico não existe um modelo de encaminhamento para os laboratórios do estado ou para a investigação académica associada.
As universidades, cuja autonomia administrativa já dura há muito tempo, ainda não aceitaram que prestar serviços de I&D ao tecido empresarial é uma forma de financiamento, formação e colocação de alunos no mercado de trabalho tão legítima como outra qualquer.
Enquanto continuarem a depender inteiramente de fundos do estado para patrocinar as suas actividades endógenas de investigação, a relação empresa-universidade-laboratórios nunca será verdadeiramente conseguida.
Portugal está a atribuir indiscriminadamente bolsas de doutoramento para tudo e todos quando o tecido empresarial português não tem capacidade de absorção desse know-how.
Estamos a subsidiar de forma cabal a saída de jovens com potencial do nosso país, para depois tentarmos incentivar o seu retorno através de mais subsídios, com a eficácia reduzida que se conhece.
Somos testemunhas de uma nova vaga de emigração altamente qualificada, em parte fundamental por culpa desta política de ciência e tecnologia.
O incentivo à investigação deve ser realizado nas empresas e em estreita colaboração com elas e tambem, mas nunca, em laboratórios e universidades com agendas próprias mal definidas, sub-repticiamente contratadas e sem resultados visíveis.
O atraso de um país não se resolve com um conjunto de mezinhas como quem vai às compras na mercearia. As mais de 200 medidas do plano assemelham-se a uma lista de mercearia.
A fuga de cérebros para os EUA durante os últimos 40 anos, ou a fuga de cérebros para a Índia ou China nos tempos actuais, não se deveu a subsídios do Estado.
Que qualidade de emigrantes temos atraído? Que projectos de I&D associado a investimento estrangeiro temos atraído?
A criação de parques de ciência e tecnologia nos EUA em meados da década de oitenta e noventa deveu-se a tudo menos a incentivos do Estado.
Em Portugal, que plano tecnológico resistirá a um IVA de 21%? Que supostamente seria temporário quando passou para os 19%...Como incentivar a utilização de computadores e internet se primeiro se encarece por via de impostos todo este género de ofertas?
Como se estimula a banda larga quando em primeira instância se dificulta a livre concorrência no sector das comunicações?
Duplicar o financiamento público de I&D é meritório, e fácil, mas não implica o crescimento correlacionado do I&D privado.
É isto que os governantes portugueses ainda não aceitaram.
Triplicar o nº de patentes registadas seria óptimo, mas isso não tem efeito se não forem patentes relacionadas com os sectores cruciais da nossa economia e se não corresponder a criação de novas empresas e produtos transaccionados com êxito lá fora.
Triplicar o esforço de I&D empresarial é de louvar, mas isso terá pouco impacto se for realizado por empresas onde o estado tem controlo através da participação de capital e redundante se feita onde já forem conhecidos os planos de investimento como da Siemens, da Bosch ou da VW Autoeuropa, entre outras poucas.
Fazer crescer em 50% os recursos humanos em I&D e a produção científica referenciada internacionalmente e aumentar para 1500 por ano o número de doutoramentos é grandioso.
Mas se estamos a formar quadros para trabalharem em empresas estrangeiras noutros países, estamos na prática a financiar outros sistemas científicos que não o nosso.
Daqueles que não vão para fora, muitos são absorvidos pelo próprio estado e muitos poucos são absorvidos pelo tecido empresarial a fazerem aquilo para o qual o Estado os formou.
Criar emprego à custa da despesa pública é fácil.
Foi uma das formulas com a qual Guterres chegou ao 2º mandato.
Um plano tecnológico não pode lutar sozinho contra as condições estruturais do país e o peso que o Estado detém na economia.
É de louvar que ele seja implementado, mas estando sozinho poderá limitar-se-á a uma série de consequências de certo modo inconsequentes para o crescimento e o desenvolvimento económico e para aproximar o país da média europeia.
Sem dúvida que este plano tem muitas coisas positivas. Muitas das quais dizem respeito a coordenação interministerial que dependerá em grande parte da capacidade de Sócrates em controlar o processo.
Sócrates fez bem em assumir o controlo do plano. Desse modo garante que mais nenhum coordenador do Plano poder-se-á demitir.
No entanto os portugueses votaram no choque tecnológico e esse tardará a vir. Tardará a sentir-se nas suas bolsas e no seu bem-estar.
As verbas destinadas, por exemplo, á OTA ou TGV, particularmente este último, poderiam ser reformuladas e aplicadas em Know-How empresarial de desenvolvimento de novas tecnlogias no sector das energias renováveis.
Estariamos a combater o nosso deficit energético, a contribuir para um melhor ambiente, a reduzir a esperada factura ambiental do Protocolo de Quioto e a criar bens de potencial exportação.
Uma coisa é certa: não será este plano que resolverá o nosso problema de modelo de desenvolvimento económico. Muito menos contribuirá este plano para aproximar significativamente Portugal dos países desenvolvidos da UE.
Esses não estão parados á nossa espera.